domingo, 15 de novembro de 2009

A TIGRESA E A ÁGUIA

Por que me pedes, querida, para te esquecer, se ao pedires me mostras o quanto estou presente em ti?

Sussurras macio, como teu andar de tigresa no silêncio dos inúmeros segredos que te guardam, e dizes que o tempo dará respostas ao medo que sentes de voar, comigo, para além das fronteiras do medo, teu e meu.


E não percebes que teu próprio murmurar revela, também, a marca da eternidade parindo nosso instante e batizando, com as águas do infinito, qualquer lugar em que o ponhas.


As respostas de Cronos, querida, são só outras perguntas...


Queiramos ou não, tu e eu, estarei contigo sempre, indelével tinta de sangue desenhando na alma do ontem, do hoje e do amanhã a cor de minha carne, não importa se a aceites ou recuses.

Nosso encontro não pertence a nós e sim às incontáveis probabilidades com que o Criador vestiu o mundo, ordenando à luz fazer-se em brilho para romper trevas e mostrar, na escuridão, fontes que saciem nossas sedes de homem e de mulher, banhando de vida a aridez em que a procura, às vezes, mascara o rumo dos olhos no dinamismo de nossa mudança e crescimento.


Por isso, mais do que aceitar, sorvo com gula o inevitável, e não dispenso nenhuma gota da taça do momento.


Sei que não posso, não devo e não quero escrever tua história com outra caligrafia que não seja a tua, e aceito por enquanto tua fuga. Que fazer contra tua vontade e caprichos?


Mas, tigresa, lembra disso: estou vinculado a ti por uma ordem do divino, e meu olfato identifica teu aroma de deusa onde estiveres. Por isso, te perseguirei pelas galáxias, sempre desarmado, pronto a doar minha própria essência como tua presa e caça.


E se - tigresa, fada, feiticeira ou mulher feita de corpo e de sonho - um dia quiseres alçar vôo para os céus do amor, mesmo com medo, finca tuas garras felinas em meu dorso de águia e sobe, comigo, para ver, lá do alto, o sol nascendo de novo sobre as montanhas de Eros.

Hugo Leal

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